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Get It Done: A Estratégia Definitiva para Desenvolvedores Dominarem o Tempo e Evoluírem na Carreira

Como o método Get It Done, aliado a técnicas de Deep Work e ferramentas como Notion, pode transformar sua produtividade e acelerar sua senioridade.

Anderson LimaSoftware Architect
November 30, 2025
29 min read
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Get It Done: A Estratégia Definitiva para Desenvolvedores Dominarem o Tempo e Evoluírem na Carreira

Método Get It Done: Gerenciamento de Tempo Estratégico para Desenvolvedores de Software

Introdução. Em ambientes de desenvolvimento de software altamente complexos e dinâmicos, gerir o tempo deixou de ser um luxo para se tornar questão de sobrevivência profissional. A rotina de um desenvolvedor envolve equilibrar features para entregar, correção de bugs urgentes, reuniões, estudo de novas tecnologias e suporte à equipe – tudo isso fragmentando o foco e drenando energia mental. Cada interrupção, por menor que seja, exige um esforço significativo para retomar o estado de “fluxo” (concentração profunda), tornando o trabalho bem mais exaustivo  . Não à toa, especialistas destacam que a gestão eficaz do tempo é hoje habilidade fundamental para o sucesso na carreira de um desenvolvedor, pois permite trabalhar de forma mais inteligente, estratégica e sustentável, em vez de apenas compensar com mais horas . Saber organizar a rotina e proteger o tempo de foco impacta diretamente a produtividade e a qualidade do código entregue, reduzindo estresse e elevando a satisfação profissional . Afinal, ser produtivo não é fazer mais coisas, e sim saber aproveitar melhor o tempo disponível .

Apesar de importante, gerenciar o tempo em TI não é trivial. O fluxo constante de demandas e distrações pode facilmente levar à sensação de estar “apagando incêndios” sem avançar nas tarefas realmente importantes. Estudos mostram, por exemplo, que após uma interrupção pode levar até 23 minutos para um profissional recuperar totalmente o foco na tarefa original . Ou seja, checar um e-mail ou Slack fora de hora pode custar quase meia hora de produtividade perdida. Não é surpresa que o trabalho multitarefa (tentar fazer várias coisas simultaneamente) tende a reduzir a qualidade do trabalho e aumentar o tempo de conclusão de tarefas, prejudicando resultados . Diante desses desafios, como otimizar nosso uso do tempo?

Neste post, exploramos uma abordagem técnica e estratégica para desenvolvedores dominarem seu tempo: o método Get It Done (inspirado na metodologia Getting Things Done de David Allen). Veremos como essa estrutura funciona na prática diária de devs, com exemplos reais, e como integrá-la a ferramentas modernas como o Notion para potencializar sua aplicação. Também discutiremos técnicas de foco e bloqueio de interrupções (incluindo ideias do conceito Deep Work de Cal Newport) e o impacto do gerenciamento de tempo na progressão de carreira – do nível júnior ao sênior. Trazemos insights de especialistas em produtividade, desde nomes internacionais como Cal Newport (autor de Deep Work) e David Allen (criador do GTD), até referências nacionais como Augusto W. Weber – conhecido como “Engenheiro do Tempo” e cofundador do canal Vida de Titã, com mais de 500 mil inscritos no YouTube . Preparado para “fazer acontecer” e levar sua organização pessoal a outro nível? Vamos lá.

Por que Desenvolvedores Precisam Gerenciar Melhor o Tempo

Desenvolver software é uma atividade criativa e complexa, que demanda intensa concentração. No entanto, o cotidiano em empresas de tecnologia muitas vezes conspira contra o foco: metodologias ágeis com entregas rápidas, múltiplas tasks paralelas, reuniões frequentes e notificações constantes formam um cenário propício à dispersão  . Cada contexto alternado (por exemplo, parar a codificação de um módulo crítico para responder a uma mensagem ou ajudar um colega) impõe um overhead cognitivo. Como mencionado, um simples ping no chat pode nos tirar do fluxo de trabalho e demorar ~23 minutos para retomarmos a concentração total . O resultado é queda na produtividade e aumento do cansaço mental.

Além disso, desenvolvedores lidam com alta complexidade técnica. Manter foco profundo (deep work) em tarefas complexas – como depurar um algoritmo ou arquitetar um sistema – é essencial para qualidade e inovação. Cal Newport popularizou o termo Deep Work para descrever exatamente esse estado de concentração sem distrações, argumentando que ele aumenta não apenas a produtividade, mas também a qualidade do trabalho realizado . Ao nos afastarmos de interrupções (desligando notificações de redes sociais, e-mails etc.), entramos em fluxo e potencializamos nossa capacidade de resolver problemas e criar soluções criativas . Desenvolver essa habilidade de foco é valioso num mundo cada vez mais distraído.

Dica: Se você sente que 24 horas são pouco para o que precisa fazer, saiba que a chave não é “esticar” o dia, mas mudar a forma como utiliza seu tempo. Em vez de reagir a cada demanda imediatamente, passe a comandar proativamente sua agenda, definindo quando codar, quando ler e-mails e quando simplesmente pensar. 📅

Em suma, gerir bem o tempo significa priorizar o que gera valor e blindar-se contra o que atrapalha. Significa dizer “não” ao multitasking e estabelecer períodos dedicados exclusivamente a trabalho concentrado de alta prioridade. Significa também criar um sistema confiável para não esquecer de nada, diminuindo a ansiedade típica de quem tenta guardar todas as tarefas na cabeça. Como afirma David Allen, autor do método GTD, ter controle sobre suas atividades reduz o estresse e traz mais equilíbrio, bem-estar e qualidade de vida  – benefícios essenciais para quem quer evoluir na carreira de TI sem sucumbir ao burnout.

Destrinchando o Método Get It Done (GTD) para Devs

Vamos agora ao método Get It Done em si, que é fortemente inspirado no famoso GTD (Getting Things Done) de David Allen – apresentado no livro “A Arte de Fazer Acontecer”. Trata-se de uma metodologia de produtividade pessoal baseada em cinco passos fundamentais: Capturar, Esclarecer, Organizar, Refletir e Engajar . Cada etapa é projetada para ajudar a lidar com o fluxo contínuo de informações e tarefas do dia a dia de forma estruturada e eficiente. A seguir, vamos explicar cada passo no contexto da rotina de um desenvolvedor de software, com exemplos práticos:

1. Capturar (Coletar) – Tire da cabeça, ponha em um inbox

Este primeiro passo consiste em capturar tudo que chama sua atenção – tarefas, ideias, pendências, bugs relatados, insights de código – e registrar em uma “caixa de entrada” externa . Para um dev, isso significa não confiar na memória para lembrar de corrigir aquele erro mais tarde ou implementar tal melhoria – em vez disso, anote imediatamente em algum lugar confiável. Pode ser um aplicativo de notas/tarefas, uma ferramenta como Jira ou Notion, ou mesmo um arquivo de texto ou caderno, contanto que seja fácil de acessar e atualizar . Por exemplo: no meio de codar um módulo, você pensa “preciso refatorar aquela função X depois”. Em vez de tentar lembrar mais tarde (risco de esquecimento), capture escrevendo numa lista “Refatorar função X do módulo Y”. A ideia é esvaziar a mente, livrando espaço cognitivo para se concentrar no presente, sabendo que nada ficará perdido – está tudo capturado na sua caixa de entrada.

2. Esclarecer (Processar) – Entenda o que cada item exige

Agora é hora de processar o conteúdo da caixa de entrada com calma e foco, definindo ações para cada item coletado . Pergunte-se: “O que exatamente é isto? Precisa de alguma ação minha?” Se não for algo acionável, descarte ou guarde conforme o caso:

  • Se não vai fazer nada a respeito, pode excluir (lixeira) ou arquivar.
  • Se é algo interessante mas não urgente/definido, coloque numa lista “Algum dia/Talvez” (ex: ideia de aprender uma nova linguagem no futuro) .
  • Se for referência ou informação útil, arquive em Materiais de referência (por exemplo, um link de artigo técnico para ler depois) .

Se sim demanda ação, então determine qual é a próxima ação concreta. Pode ser que uma tarefa capturada seja parte de um projeto maior – se for o caso, identifique o próximo passo objetivo. Neste momento aplicamos a famosa “Regra dos 2 Minutos” do GTD: se a ação levar menos de dois minutos, faça imediatamente . Isso evita procrastinar micro-tarefas que juntas acabam acumulando. Para um desenvolvedor, exemplos de ações <2 minutos: responder um e-mail simples, criar um rascunho de ticket, formatar um código, etc. Execute já e tire isso da lista.

Para ações que levam mais tempo, há três destinos possíveis:

  • Delegar: alguém mais pode fazer? Passe adiante e acompanhe (ex.: encaminhar um bug de frontend para o desenvolvedor responsável caso não seja você).
  • Agendar: marque quando fará, alocando em dia/horário específico no calendário (ex.: reservar amanhã 14h–15h para code review de um pull request pendente) .
  • Transformar em projeto: se a tarefa é grande ou complexa demais para uma só ação, registre como um projeto com múltiplos passos e defina pelo menos o primeiro passo agora . Por exemplo, “Desenvolver recurso de upload de arquivo” pode virar um mini-projeto; próxima ação: “Especificar requisitos do upload com o time de produto”.

Diagrama de processamento do método GTD (adaptado de David Allen). Ao esclarecer cada item da sua caixa de entrada, decida: é acionável? Se não, descartar ou incubar; se sim, definir próxima ação. Aplicar a Regra dos 2 Minutos (se leva <2min, faça já) ou decidir entre delegar, adiar em calendário ou colocar na lista de próximas ações. Esse fluxo evita que tarefas fiquem esquecidas ou mal definidas, garantindo que tudo tenha um destino adequado no sistema.  

3. Organizar – Estruture seu sistema de listas e agendas

Com as ações esclarecidas, o próximo passo é organizar todas em um sistema lógico . Isso envolve categorizar tarefas por contexto, prioridade e projeto, distribuir nos devidos lugares:

  • Monte listas específicas. Por exemplo: uma lista de “Próximas Ações” (ações a executar assim que possível, divididas por contexto – @computador, @reunião, @casa etc.), uma lista de “Projetos” (cada projeto com suas ações dentro), uma lista de “Aguardando/Em espera” (para itens delegados aguardando retorno), e a lista “Algum dia/Talvez” já mencionada para ideias futuras.
  • Use ferramentas apropriadas para organizar. Muitos devs adotam planilhas, aplicativos ou gestores de tarefas. Ferramentas digitais como Todoist, Trello ou mesmo uma agenda tradicional podem ajudar a gerenciar listas e prazos. Uma dica valiosa é integrar tudo em um só lugar – e muitos profissionais optam pelo Notion como central de organização, pela flexibilidade. Por exemplo, o especialista Fabiano Natale comenta que sua ferramenta preferida para estruturar o GTD é o Notion, por permitir combinar listas, boards e calendários em um só sistema . Nele, você pode criar páginas ou databases: uma tabela Inbox para capturas, quadros Kanban para projetos, calendários para tarefas agendadas, e por aí vai.
  • No contexto de desenvolvimento, organize também por projetos de código ou componentes. Ex: tarefas relacionadas a “API Backend” separadas das de “Frontend”, etc. Assim, quando você tiver um período dedicado a trabalhar no backend, pode filtrar ou focar apenas nas ações daquele contexto.

A organização serve para que, conforme novas tarefas vão chegando (lembrando que a caixa de entrada é contínua), você tenha um lugar para cada coisa. Tudo deve residir em uma lista ou calendário apropriado, em vez de solto na memória ou em posts-its. Isso cria confiança no sistema: ao olhar suas listas organizadas, você enxerga o quadro completo do trabalho, sabe suas prioridades e não se perde mesmo em meio a muitas frentes.

4. Refletir (Revisar) – Cheque o sistema regularmente

Não basta capturar e organizar uma vez – a efetividade do método vem da revisão periódica de todas as tarefas e projetos . Allen recomenda revisar pelo menos semanalmente todas as listas . Separe então um momento na semana (por exemplo, toda sexta-feira à tarde ou segunda de manhã) para fazer seu Weekly Review:

  • Verifique a lista de Próximas Ações: marcar as concluídas, atualizar status das em andamento, incluir novas ações que surgiram.
  • Revise seus Projetos: cada projeto tem pelo menos uma próxima ação definida? Algum projeto pode ser concluído ou pausado? Repriorize conforme necessário.
  • Olhe o calendário dos próximos dias/semana: prepare-se para prazos ou eventos importantes.
  • Analise a lista Aguardando: cobrir retornos pendentes de colegas, se algo está travado.
  • Consulte “Algum dia/Talvez”: talvez chegou a hora de iniciar algo que estava incubado, ou remover o que perdeu sentido.
  • Planeje sua semana seguinte: baseado nas prioridades e contexto atual, já delimite quais serão as tarefas foco de cada dia, agende blocos de trabalho concentrado (falaremos adiante) e ajuste suas metas. (Augusto W. Weber, o “Engenheiro do Tempo”, reforça muito essa importância de planejar a semana com antecedência para assumir o controle da agenda e não apenas reagir às urgências.)

Essa etapa de reflexão é crucial para manter o sistema confiável e atualizado. A revisão traz clareza sobre o panorama geral, garantindo que nada fique esquecido e que você esteja sempre trabalhando na coisa certa. Muitas vezes, é nesse momento que percebemos necessidades de reorganizar prioridades ou dizer “não” a novas demandas para proteger o que já está em andamento. Desenvolvedores experientes costumam usar a revisão semanal inclusive para alinhar planejamento com o ciclo de sprints ou entregas da equipe, sincronizando seu GTD pessoal com o processo do time.

5. Engajar (Executar) – Mãos à obra com foco total

Após toda essa estruturação, finalmente chega a hora de engajar nas tarefas e executá-las da melhor forma possível . Aqui entram os princípios de produtividade durante a execução:

  • Trabalhe com significado e foco: dedique-se de corpo e alma à tarefa escolhida, evitando pular para outras coisas. Como diz Allen, todas as tarefas devem ser feitas com foco, sem permitir que outras questões o atrapalhem . Ou seja, hora de codar é hora de codar – evite distrações nesse período.
  • Use o contexto para decidir a próxima ação: ao concluir uma tarefa, consulte sua lista e escolha algo adequado ao contexto atual (local, energia disponível, prioridade). Ex: se você tem 30 minutos livres até uma reunião, pode escolher uma tarefa rápida da lista (talvez revisar um pull request pequeno) em vez de iniciar um desenvolvimento longo que será interrompido.
  • Proteja seu tempo de foco: sempre que possível, engaje nas tarefas importantes em blocos concentrados, sem interrupções (mais sobre isso no próximo tópico). O método GTD, ao deixar claro o que é prioridade, te ajuda a dizer não às distrações e trabalhar com propósito, avançando no que realmente importa . Em outras palavras, confiança no sistema traz tranquilidade para imergir no trabalho, pois você sabe que as demais pendências estão controladas e agendadas – não há necessidade de ficar “checando a lista” compulsivamente ou tentando lembrar de tudo ao mesmo tempo.
  • Mantenha flexibilidade e julgamento: engajar também envolve ser adaptável. Se surgir uma urgência genuína no dia, você pode lidar com ela (afinal, imprevistos acontecem) – mas com a consciência do impacto, realocando outras tarefas se preciso. O GTD não engessa sua agenda; ele dá suporte para você tomar decisões rápidas com clareza de prioridades.

Resumindo o método: Capture todas as demandas, esclareça cada uma decidindo ações, organize em listas e agendas confiáveis, revise regularmente e então execute com foco. Parece muito trabalho “se organizar”, mas é esse investimento que evita o retrabalho, a sobrecarga mental e a sensação de estar sempre correndo atrás do prejuízo. Nas palavras do Gizmodo, o GTD é simples, flexível e funciona no mundo real  – especialmente para desenvolvedores, que lidam com tantos “firehoses” de informações. Com a prática, o processo fica natural e você sentirá um enorme ganho de produtividade e redução de estresse por ter seu universo de tarefas sob controle.

Integrando o Método com Ferramentas (Notion e outras)

Uma vez entendido o fluxo Get It Done, é hora de ver como a tecnologia pode ser aliada na implementação. Ferramentas digitais ajudam a centralizar seu sistema de produtividade, facilitando acompanhar tudo em um só lugar – o que é perfeito para desenvolvedores já habituados a softwares. Dentre várias opções, o Notion se destaca como uma das ferramentas mais versáteis para aplicar o método GTD na prática do dia a dia.

No Notion, você pode criar um espaço personalizado para gerenciar todas as etapas do método:

  • Caixa de Entrada: crie uma página ou tabela chamada “Inbox” para Capturar itens rapidamente. Por exemplo, um database de nome “📥 Inbox” com campos como Tarefa (texto), Projeto (se aplicável), Contexto, Prioridade etc. Cada vez que surgir algo (nova tarefa, ideia, bug), você adiciona uma nova entrada aqui. O Notion no celular e desktop sincroniza, então fica fácil capturar onde estiver.
  • Listas de Próximas Ações, Aguardando, Algum dia: use views filtradas de um database ou páginas separadas para cada lista. Você pode ter um database principal de “Tarefas” com status/contexto, e então criar views que mostrem somente as tarefas marcadas como “Próxima Ação”, outro para “Aguardando” (quando assinalado responsável diferente, por exemplo) e assim por diante. Assim, ao Esclarecer, você tira itens do Inbox e coloca nesse database com as devidas propriedades (projeto, status, data, responsável etc).
  • Projetos: crie um board estilo Kanban ou listas para projetos, vinculando às tarefas. No Notion dá para fazer um relação entre um database de Projetos e o de Tarefas, de forma que cada projeto “puxe” suas próximas ações. Isso lhe dá uma visão organizada por iniciativa.
  • Calendário: aproveite a view de calendário do Notion para quaisquer tarefas agendadas com data/hora (reuniões, tarefas fixas). Assim você visualiza sua semana.
  • Templates e automações: você pode criar templates de página para novos projetos já com checklist padrão, usar reminders para ser avisado de follow-ups, etc., tornando seu sistema semi-automático.

O bacana do Notion é que ele permite combinar notas, wikis e tarefas. Então, além de gerir to-dos, você pode documentar aprendizados, guardar snippets de código referentes a uma tarefa, manter agenda de estudos – tudo linkado. Por exemplo: suponha que você capturou “Estudar GraphQL”. Você pode ter no Notion uma página de notas sobre GraphQL; ao clarificar, coloca “Estudar GraphQL” na lista Algum dia/Talvez ou em um projeto de estudo, e linka para aquela nota. Quando for agir, o material já está à mão.

Dica Notion: Existem diversos templates GTD gratuitos na comunidade, mas construir o seu pode ser um ótimo aprendizado. Mantenha inicialmente algo simples: Inbox, Next Actions, Projects, Someday. Com o tempo, ajuste ao seu fluxo. Lembre-se que a ferramenta deve servir ao método, não o contrário. Evite gastar mais tempo “organizando a ferramenta” do que fazendo as tarefas – ajuste aos poucos, conforme sentir necessidade.

Claro que o Notion não é a única opção. Muitos devs gostam do Trello (pela simplicidade de arrastar cartões em colunas que podem representar listas GTD), do Todoist (pela rapidez na captura via quick add e ótimo suporte a datas recorrentes), do Evernote/OneNote (mais focados em notas, mas adaptáveis) ou até mesmo do bom e velho arquivo README.md pessoal em que listam tarefas. O importante é escolher algo que você se sinta confortável e seja prático no dia a dia . Augusto W. Weber costuma dizer que não existe ferramenta perfeita universal – use aquela que você vai usar de verdade.

Uma vez configurado seu “sistema de produtividade” digital, discipline-se para usá-lo rigorosamente: ao longo do dia, vá colocando coisas no Inbox (sem julgamento), processe sua caixa de entrada pelo menos uma vez ao dia (esclareça e organize), e consulte suas listas na hora de decidir o que fazer em seguida. Confie no sistema – isso diminui a ansiedade de “estar esquecendo algo” e permite se concentrar totalmente na tarefa atual.

Protegendo Seu Tempo de Foco: Como Minimizar Interrupções e Evitar Multitarefa

Implementar o GTD organiza suas prioridades, mas é protegendo seu tempo de foco que você vai transformar essas prioridades em resultados concretos. Para desenvolvedores, tempo de foco ininterrupto é ouro – é quando conseguimos entrar no flow e escrever código de alta qualidade ou solucionar problemas complexos. Então, além da organização interna, é preciso adotar estratégias para blindar essas janelas de concentração contra interrupções e dispersões.

Desenvolvedor em concentração profunda no trabalho. Reservar blocos de tempo dedicados a uma única tarefa complexa – e comunicar aos colegas que você estará indisponível naquele período – é crucial para entrar em estado de fluxo e produzir com qualidade. Estudos indicam que multitarefa e interrupções frequentes degradam a performance e aumentam o tempo total gasto nas atividades . Por isso, técnicas como Time Blocking, Deep Work e Pomodoro são aliadas para melhorar o foco.  

  1. Faça Time Blocking: Uma técnica poderosa é bloquear blocos de tempo na sua agenda para trabalho focado. Em vez de apenas ter uma lista de tarefas e “ver quando faz”, agende compromissos consigo mesmo para suas tarefas prioritárias . Exemplo: marque no calendário Segunda 9h–11h: Implementar API X (foco). Trate esse bloco como trataria uma reunião importante – ou seja, compareça e não permita interrupções fáceis. Informar ao time que naquele horário você estará em deep work pode ajudar a reduzir intromissões. O time blocking garante que suas prioridades não sejam engolidas pela tirania do urgente . Muitos devs acham útil inclusive aplicar a ideia do “Maker’s Schedule vs Manager’s Schedule” (conceito de Paul Graham) – reservar grandes blocos (de 2-3h) para tarefas de criação/codificação (“modo maker”) e colocar reuniões e assuntos rápidos todos agrupados em outros horários (“modo manager”). Assim, você não fragmenta demais seu dia.

  2. Implemente sessões de Deep Work: A ideia de Cal Newport, trabalho profundo, consiste em se desligar de distrações e mergulhar totalmente em uma tarefa cognitivamente exigente por um período (digamos 60–90 minutos)  . Para isso, desligue ou silencie notificações (e-mail, chats, celular no modo foco) durante a sessão. Se estiver no escritório, considere usar fones de ouvido ou sinalizar de alguma forma que não quer ser interrompido. No home office, feche redes sociais e comunique família/colegas de casa sobre seu horário de concentração. Durante o deep work, foque em uma única tarefa – não tente resolver tudo de uma vez. Pesquisas indicam que trabalhar assim não só aumenta a quantidade produzida em menos tempo, mas também melhora a qualidade e o aprendizado obtido  . Por exemplo, ao passar uma manhã inteira focado em resolver um algoritmo complexo, você aproveita todo o poder do seu cérebro sem resetá-lo a cada 10 minutos, chegando a insights melhores do que faria fragmentado em pequenos pedaços ao longo de dias.

  3. Evite Multitarefa a todo custo: Já mencionamos, mas reforçando – multitarefa é inimiga da produtividade em desenvolvimento. Tentar codar uma funcionalidade enquanto participa de uma reunião no Zoom e responde e-mails a cada ping não é heroico, é contraproducente. Estudos comprovam que a multitarefa reduz a eficiência e eleva a taxa de erros . Portanto, sempre que possível, opere em modo monotarefa: escolha uma coisa e foque nela até concluir (ou até o fim do bloco de tempo planejado). Isso vale inclusive para tarefas pequenas: em vez de ficar alternando entre 5 janelas, agrupe tarefas similares e faça em lote – a técnica de batching. Por exemplo, se precisar responder a vários e-mails, reserve um horário específico só para isso e dispare todos de uma vez, em vez de pingar sua concentração toda hora para responder um por um ao longo do dia . Se tem 3 bugs de UI para corrigir, faça todos na sequência. Essa abordagem de “agrupamento de tarefas” otimiza o uso da sua configuração mental e dá até uma sensação de progresso ao riscar vários itens de natureza parecida de uma vez .

  4. Minimize interrupções externas: Tome controle sobre o que puder:

    • Notificações: Configure períodos “Não Perturbe” no Slack e no e-mail quando estiver codando. Desative notificações push no celular ou feche o e-mail durante deep work. Lembre-se: nada vai pegar fogo se você ficar 1 ou 2 horas offline – e se for realmente urgente, alguém irá telefonar ou achar outro meio. Estudos internos de empresas mostraram que profissionais chegam a checar e-mail dezenas de vezes por dia sem necessidade real  – um hábito a quebrar.
    • Comunicação proativa: Tente alinhar com sua equipe horários de foco coletivo, por exemplo, combinando que manhãs são para trabalho concentrado e deixando reuniões para a tarde. Se todos sabem que pela manhã não devem se interromper mutuamente salvo emergência, fica culturalmente mais fácil.
    • Ambiente de trabalho: Se possível, crie um ambiente favorável – um local silencioso, ou usar música ambiente que ajude (música instrumental, ruído branco). Se o open space está caótico, talvez trabalhar de casa ou em uma sala fechada em momentos críticos seja uma opção.
    • Diga “não” ou “depois” educadamente: Quando você estiver no meio de um bloco de foco e alguém pedir algo, pratique responder: “Posso te ajudar em X minutos? No momento estou terminando uma tarefa crítica.” Na maioria dos casos, pode esperar. Proteja seu tempo; se você não valorizar, ninguém valorizará por você.
  5. Use técnicas de microgestão do foco: Ferramentas de gestão do tempo pessoal podem ajudar a manter a disciplina:

    • Técnica Pomodoro: clássica, trabalhar ~25 minutos focados e tirar 5 min de intervalo . Após 4 pomodoros, pausa maior. Muitos desenvolvedores adoram pois gamifica o foco – “vamos, só mais 25 min sem distrações”. Há apps e timers específicos para isso.
    • Técnica do Eisenhower Matrix: priorização de tarefas em quadrantes Urgente/Importante  – ajuda a decidir o que realmente merece seu foco vs. o que pode ser delegado ou adiado.
    • Regra 80/20 (Pareto): identifique quais 20% das tarefas trazem 80% dos resultados e foque nelas. Às vezes temos 10 tarefas, mas talvez 2 ou 3 são as mais impactantes – se você se garantir nelas, o restante sendo adiado terá impacto menor.
    • Intervalos estratégicos: não confunda foco contínuo com trabalhar sem parar. Pausas regulares são essenciais para longevidade do foco. A técnica Pomodoro já inclui isso; mesmo sem pomodoro, lembre de levantar a cada hora, descansar a vista, beber água. Descansar faz parte de manter a produtividade alta, prevenindo fadiga decisória e burnout .

Em resumo, proteger seu tempo de foco é sobre intencionalidade: você deliberadamente define quando estará focado e gerencia o ambiente para que isso aconteça. Essa habilidade se reflete diretamente na qualidade do seu trabalho e é percebida pelos colegas e líderes – um desenvolvedor que consegue cumprir prazos sem crises de última hora e produz códigos robustos provavelmente soube gerenciar bem seu tempo e atenção. Nas palavras do Gizmodo, “controle as interrupções tecnológicas e organize suas atividades em blocos de tempo específicos” para retomar as rédeas da sua atenção  – um conselho valioso em nossa era de distrações.

Crescendo na Carreira: de Júnior a Sênior com Produtividade

Uma gestão de tempo eficaz não traz benefícios apenas no dia a dia imediato, mas também tem impacto de longo prazo na progressão da carreira técnica. Conforme avançamos de desenvolvedor júnior para pleno e sênior, aumentam as responsabilidades, a complexidade das tarefas e a autonomia esperada . Saber gerenciar o próprio tempo e prioridades se torna cada vez mais crítico para dar conta do recado e se destacar em cada nível:

  • Desenvolvedor Júnior: no início da carreira, o foco principal costuma ser absorver conhecimento técnico e executar tarefas mais simples, normalmente atribuídas e supervisionadas por outros  . Ainda assim, se desde cedo o júnior adota boas práticas de organização (por exemplo, mantém uma lista do que lhe foi passado, anota dúvidas para tirar com o mentor, planeja estudos após o trabalho), ele demonstra profissionalismo e ganha produtividade extra em relação aos pares. Um júnior organizado erra menos prazos, esquece menos requisitos e mostra capacidade de assumir mais tarefas – o que pode acelerar sua promoção a pleno. Por outro lado, o júnior que se enrola com o próprio tempo, vive “apagando incêndios” de última hora e perde compromissos por desorganização pode passar a impressão de imaturidade e acabar estagnado em tarefas básicas por mais tempo.
  • Desenvolvedor Pleno: no nível pleno, espera-se que o profissional já tenha boa autonomia e capacidade de tomar decisões estratégicas no trabalho . Aqui, saber priorizar é fundamental – o pleno muitas vezes atua em múltiplos projetos de média complexidade simultaneamente . Ter um sistema de gestão de tempo permite ao pleno equilibrar demandas concorrentes: ele consegue planejar a semana de modo a avançar nas tarefas críticas de um projeto sem negligenciar as atividades de manutenção de outro, por exemplo. Além disso, o pleno costuma ajudar juniores e interagir mais com áreas externas (negócios, design), o que traz mais interrupções e context switching. Se ele aplicar técnicas como time blocking para ter horas de programação focada e reservar outros horários para suporte/meetings, conseguirá manter alta produtividade. Um pleno organizado inspira confiança – a gerência sabe que pode delegar projetos importantes a ele, pois ele vai planejar e entregar. Isso o direciona à senioridade.
  • Desenvolvedor Sênior: no topo técnico, o desafio de gerenciamento de tempo é ainda maior. O sênior lida com tarefas de alta complexidade, prazos críticos, mentorias, code reviews, arquitetura, e frequentemente precisa liderar pelo exemplo em produtividade. Como descreve Michael Hoffmann, “na minha opinião, um desenvolvedor Sênior precisa ser capaz de gerenciar seu tempo de forma que possa priorizar tarefas e trabalhá-las da forma mais eficiente” . Ou seja, o sênior deve dominar as técnicas de produtividade a ponto de quase virar algo natural. Ele sabe dizer “não” a escopos exagerados, sabe delegar quando possível (até para desenvolver os plenos/juniores do time), e mantém uma visão global do progresso do time, não só do seu trabalho individual. Seniors eficientes geralmente utilizam todos os conceitos que discutimos: agenda bem estruturada, foco profundo nas tarefas-chave, interrupções sob controle, e constante revisão do que está agregando valor. Com isso, conseguem entregar resultados consistentes mesmo sob alta pressão e múltiplas frentes – o que os torna aptos a posições de liderança técnica (Tech Lead, Arquiteto, Gerente de Engenheiros, etc.) caso seja do interesse deles. Vale notar: quanto mais alto o nível, maior a complexidade de tarefas e responsabilidades  e menos microgerenciamento externo. Então, o profissional que chegou a sênior sem hábitos de organização pode falhar, enquanto aquele com boa gestão pessoal brilha.

Em qualquer nível, investir em gerenciamento de tempo é investir em evolução profissional contínua. Quando você organiza suas metas e agenda tempo para aprendizado, por exemplo, colhe certificados, novas linguagens aprendidas, projetos open-source – tudo isso conta pontos para promoções ou novas oportunidades. Quem não se organiza, acaba “sem tempo” para estudar ou contribuir além do trivial, ficando para trás. Além disso, uma reputação de pontualidade e confiabilidade (que vem de cumprir o que promete no prazo) é um grande ativo para crescer na carreira.

Por fim, lembre que produtividade não é sobre virar uma máquina que só trabalha – trata-se de ser eficaz no trabalho para também ter qualidade de vida fora dele. Augusto W. Weber, o Engenheiro do Tempo, sempre enfatiza que boa gestão do tempo permite ao profissional ser eficiente no trabalho e ainda preservar tempo para descanso, família e projetos pessoais – o equilíbrio que previne burnout e mantém a motivação lá em cima. Um desenvolvedor que administra bem suas horas consegue, por exemplo, encerrar o expediente no horário mais vezes, pois não precisou procrastinar e depois fazer serão para compensar. Com a mente descansada, ele performa melhor no dia seguinte – um ciclo virtuoso.

Conclusão

Em um setor tão desafiador como o de desenvolvimento de software, dominar seu tempo é tão importante quanto dominar algoritmos ou linguagens. A boa notícia é que, assim como habilidades técnicas, produtividade pode ser aprendida e aperfeiçoada. O método Get It Done (GTD) oferece uma estrutura prática e comprovada para tirar o caos da sua rotina: capturando tudo que precisa ser feito, organizando de forma lógica e mantendo um sistema que garante que as prioridades sejam atacadas no momento certo. Integrar esse método a ferramentas como o Notion torna ainda mais fácil aplicar no dia a dia corrido de um dev moderno, centralizando tarefas, notas e projetos num hub único de produtividade.

Mais do que seguir um método à risca, absorva os princípios-chave que discutimos:

  • Tenha um sistema de confiança para não desperdiçar energia mental tentando lembrar de tudo – sua mente foi feita para ter ideias, não para armazená-las.
  • Priorize de forma consciente o que realmente agrega valor (evitando cair na armadilha de confundir movimento com progresso – fazer muitas coisas irrelevantes não adianta).
  • Blinde seu foco. Cultive hábitos de concentração profunda, reduza distrações, diga não ao multitasking. Uma hora de trabalho focado equivale a várias horas trabalhando de forma picotada.
  • Planeje seus dias e semanas. Proatividade na alocação do tempo evita que você seja engolido apenas por urgências. Coloque as big rocks primeiro na agenda.
  • Adapte as técnicas à sua realidade. Cada desenvolvedor é diferente – experimente Pomodoro, Time Blocking, Kanban pessoal, etc., e fique com o que funcionar melhor para você.
  • Reavalie e ajuste continuamente. Produtividade é uma jornada, não um destino final. Sempre haverá espaço para melhorar algum aspecto, seja delegando mais, automatizando tarefas repetitivas ou aprendendo com outros experts.

Lembre-se das palavras de David Allen: o objetivo do GTD não é viver em função de checklists, mas sim alcançar “mente clara como água” – um estado em que você tem clareza total do que precisa fazer e pode se engajar plenamente na tarefa do momento sem estresse. Desenvolvedores que alcançam isso tendem a programar com mais prazer e criatividade, pois eliminaram aquele peso da desorganização e da correria cega.

Por fim, vale reforçar: produtividade não é fim em si – é meio para você crescer na carreira e ter uma vida mais equilibrada. Gerenciando melhor seu tempo, você produzirá mais resultados no trabalho e terá tempo para estudar novas tecnologias, contribuir em projetos que te empolgam, ou simplesmente desligar o computador e viver fora das telas. Essa é a verdadeira conquista.

Comece dando pequenos passos: hoje mesmo, que tal limpar sua caixa de entrada e anotar todas as pendências que estão na sua cabeça? Em seguida, escolha uma técnica (quem sabe um pomodoro agora?) e foque numa tarefa importante por 25 minutos . Aos poucos, vá implementando os aspectos do Get It Done. Os ganhos em produtividade e redução de estresse logo aparecerão – e uma vez que você sentir os benefícios, dificilmente vai querer voltar atrás. Como desenvolvedor, seu tempo e atenção são seus ativos mais valiosos: gerencie-os com maestria e colha os frutos de uma carreira mais eficaz, recompensadora e sem fogo no cronômetro todo dia.

Boa codificação – e boas entregas no prazo! 🚀


Referências: Ferramentas e conceitos citados aqui têm fundamento em estudos e experiências práticas. Para se aprofundar, recomenda-se a leitura de “A Arte de Fazer Acontecer” de David Allen (método GTD) , “Deep Work” de Cal Newport (foco profundo) , além de conteúdos de especialistas como Augusto W. Weber (canal Vida de Titã) e Fabio Akita (que frequentemente aborda produtividade no contexto de devs). Lembre-se: produtividade é um processo iterativo – mantenha-se atualizado com novas técnicas, teste o que funciona para você e mantenha o que te faz evoluir continuamente. Boas práticas! 

Anderson Lima

Software Architect

Engenheiro de Software Sênior com mais de uma década de experiência em desenvolvimento Front-end, Mobile e Arquiteturas escaláveis. Ao longo da carreira, já atuou na XP Inc e no Mercado Livre., liderou projetos de alta complexidade e se especializou em práticas modernas como Clean Architecture, DDD, DevOps e plataformas multi-dispositivo. Além da atuação técnica, Lemon produz conteúdo sobre produtividade, gestão do tempo e evolução na carreira dev, conectando métodos como Get It Done, Deep Work e estratégias usadas pelos principais especialistas da área.